Mercado de seguros e resseguros pode contribuir com soluções para a sociedade encarar os desafios das mudanças climáticas, além de posicionar o Brasil com o protagonismo da ação durante a COP 30
Os R$ 100 bilhões em perdas econômicas com a tragédia no Rio Grande do Sul e o valor pago de indenizações de seguros de R$ 6 bilhões têm estimulado rodas de conversas sobre o importante papel do seguro na reconstrução, e também na construção.
“Infelizmente, hoje, o Brasil improvisa a cada novo evento. De 2013 a 2024, 94% dos municípios brasileiros decretaram emergência ou estado de calamidade pelo menos uma vez. Em 2024, foram registrados 1690 desastres naturais no Brasil. A sociedade brasileira precisa ter instrumentos prontos e preparados para essas situações”, ressalta Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).
“Falamos de 94% de gap de proteção, enquanto a média global é 60%. Nos EUA, o gap é de 40%; na América Latina, é 75%. O gap na América Latina é cinco vezes menor do que o nosso e estamos falando de países com economias menos desenvolvidas do que a nossa”, compara Pedro Farme, CEO da Guy Carpenter Brasil.
Preocupação
Conforme o CEO da Guy Carpenter, há cerca de 20 anos, a sua empresa divulga um relatório de risco global no Fórum Econômico Mundial de Davos. “No relatório de 2025, depois dos conflitos armados, eventos climáticos extremos já são a segunda maior preocupação de todos os ouvidos”.
Convocar a sociedade para usar o seguro como um instrumento de apoio foi um dos objetivos da audiência pública realizada hoje, 26 de agosto, na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), que reuniu lideranças do mercado de seguros. O debate foi organizado pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, tendo o deputado federal (PP/ES), Evair Vieira de Melo, como autor do requerimento.
Conforme Oliveira, o setor de seguros tem três papéis fundamentais relacionados ao tema clima: assumir riscos, investir em projetos de transição climática e a gerir riscos. A emergência climática já chegou e a sociedade já está convivendo com isso. O Brasil é mais um país do mundo que está sofrendo as consequências das mudanças climáticas”.
Aloisio Melo, Secretário Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente (MMA), reconhece que o mercado de seguros tem um papel fundamental para o enfrentamento da emergência climática. “A capacidade que o setor de seguros tem de conhecer, ter métricas de risco, precificá-los e oferecer produtos de seguros é fundamental para os vários setores desenvolverem as suas atividades de forma plena nesse novo contexto de risco”.
Cristina Fróes, subsecretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Ministério da Fazenda (MF), antecipou que os cadernos da primeira edição da taxonomia sustentável brasileira estão em fase final de elaboração, e resultou em um trabalho robusto com 880 páginas.
Soluções
A experiência brasileira de um programa de catástrofe pode surgir de regiões que já possuem como Caribe e Europa, e outros em criação, como Peru, Chile e Marrocos. “Todos os países do mundo estão olhando para o seguro e implementando essas ferramentas para lidar com as consequências das mudanças climáticas”.
No ano passado, a Guy Carpenter fez o primeiro modelo probabilístico de alagamentos para o Brasil. “Essa é uma ferramenta que existe há mais de 50 anos nos países que têm maior exposição e frequências de eventos da natureza”, afirma Farme. “Já estamos usando em 20 seguradoras ao longo dos últimos meses e já vimos a oferta de seguro catastrófico aumentar através da provisão de resseguro adicional para as companhias na ordem de quase R$ 1 bilhão”, completa.
Alessandro Octaviani, superintendente de Seguros Privados (Susep), anunciou a criação de um grupo de trabalho para pensar o ecossistema de seguro catástrofe. “Esse grupo visa incorporar toda a pluralidade do nosso mercado e, no final do ano, teremos um diagnóstico de qual é o melhor diploma normativo, tanto para o legislativo como para a atuação da Susep”.
COP 30
Segundo Oliveira, será o ápice da mobilização do seguro em torno da agenda climática. “Teremos grandes novidades na COP 30”.
“A agenda do seguro é muito extensa. Não é à toa que o tema das seguradoras vem ganhando tanta relevância e chega à COP30 de maneira contundente, com a Casa do Seguro com uma série de atividades e reflexões para que a COP30 no Brasil seja marcada pela ação”, destaca Cristina.












