Incêndio em trem expõe limites de cobertura no transporte ferroviário

Incêndio em trem expõe limites de cobertura no transporte ferroviário

Episódio envolvendo carga de celulose da Suzano mostra que apólices de RCTF-C não cobrem dolo e destaca urgência de medidas robustas de prevenção e segurança no modal ferroviário

O incêndio que atingiu um trem da Rumo em São José do Rio Preto (SP), destruindo uma carga de celulose da Suzano e sendo investigado como possível ato criminoso, reacendeu o debate sobre a cobertura securitária no transporte ferroviário e sobre a necessidade de gestão de riscos mais estruturada.

Segundo Patrícia Freitas da Luz, Superintendente de Transportes da REP Seguros, o caso evidencia um ponto essencial: nenhuma apólice do ramo de Transportes — incluindo o seguro RCTF-C — cobre eventos decorrentes de dolo ou má-fé. “Esse é o primeiro item da lista de riscos não cobertos. Qualquer evento criminoso, como incêndio intencional, não é indenizável, independentemente do valor ou do tipo da carga. Essa regra vale para todo o segmento de Transportes, e no RCTF-C não é diferente”, afirma.

A executiva explica que, mesmo diante de perda total de mercadorias de alto valor agregado, como a celulose destruída, a responsabilidade civil permanece com a transportadora, mas ela não pode acionar sua apólice caso haja comprovação ou suspeita de dolo. “A responsabilidade é da Rumo, mas ela não poderá fazer uso de sua apólice de RCTF-C, pois não há cobertura quando existe dolo”, reforça Patricia. Essa limitação, segundo ela, deve ser mais amplamente compreendida pelos embarcadores e operadores ferroviários, já que impacta diretamente riscos financeiros e operacionais em casos de incidentes severos.

Patrícia destaca ainda que operações ferroviárias que transportam produtos sensíveis ou valiosos precisam investir em protocolos robustos de prevenção, combinando requisitos contratuais, medidas operacionais e tecnologias avançadas. Entre as recomendações estão a manutenção preventiva rigorosa de vagões e locomotivas, garantindo que as condições técnicas estejam adequadas ao risco da carga; e a implementação de planos especializados de mitigação de incêndio, com monitoramento contínuo de pontos vulneráveis da ferrovia e das condições ambientais.

Ela também ressalta a importância da gestão da vegetação e limpeza da faixa de domínio, reduzindo materiais combustíveis que possam facilitar a propagação de chamas, especialmente durante atividades de manutenção como soldagem ou corte de trilhos. Outras medidas incluem o treinamento específico das equipes, a instalação de sistemas de detecção precoce e supressão de incêndio, o uso de rastreadores e sensores de monitoramento em tempo real para acompanhar integridade e condições da carga, além do emprego de embalagens e contêineres certificados, capazes de oferecer maior resistência em cenários de risco.

“A prevenção é o único caminho quando falamos de produtos de alto valor. O seguro é uma ferramenta essencial, mas não substitui uma gestão de riscos estruturada. No transporte ferroviário, cada etapa — manutenção, tecnologia, monitoramento e treinamento — precisa atuar de forma integrada para evitar perdas severas como a registrada neste caso”, conclui a especialista.

FONTE: MGA PRESS